segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Filmes dos bons!

"Desert Flower", em Tuga... "Flor do Deserto". Inspirado no livro "Desert Flower - The Extraordinary Journey of a Desert Nomad", autobiografia e best-seller mundial sobre a modelo somali, Waris Dirie. Admito não conhecer o livro mas a analisar pelo titulo, retratará a historia (real) da vida e ascensão da ex-top model até ao estrelato no mundo da moda.
O filme fala disso e de muito mais!
Para falar do filme temos obrigatoriamente de falar de Waris Dirie e da sua história, que é no fundo a do filme. Waris Dirie significa Flor do Deserto, nasce no deserto africano no seio de uma numerosa e tradicional família nómada. Com apenas 5 anos conheceu a horripilante realidade imposta a muitas meninas somalis, a brutalidade da mutilação genital. Aos 12 anos foi vendida a um homem de terceira idade e opondo-se ao casamento atravessa o deserto em fuga. A impressionante fuga termina em Londres onde trabalhou como empregada da embaixada somali. Recusando-se a voltar á Somália, sem dinheiro e com dificuldades na língua, Waris acaba a trabalhar numa cadeia de fast-food onde é descoberta por um fotografo de renome.
O percurso de Waris, apesar do impacto emocional que causa, não é mais que o pano de fundo para a realidade barbara da mutilação genital feminina causadora de danos físicos e psicológicos irreversíveis, podendo até levar á morte. A prática deste costume apesar de envolto em secretismo é considerada em muitas culturas benéfico, acredita-se que as jovens não sujeitas a esta "tradição" são impuras, nunca encontrarão marido, não conseguirão dar á luz ou tornar-se-ão prostitutas. São ainda apontadas razões tão descabidas como a de assegurar a castidade da jovem, garantir a preservação da virgindade ou o aumento da fertilidade! O torturante acto elimina a totalidade do prazer sexual da mulher, pode ser efectuado com objectos completamente inapropriados e a dor infligida deverá ser desumana e muitas vezes permanente. Lutar contra este flagelo é ir contra os valores familiares, tribais, é rejeitar o próprio povo e a sua identidade cultural, é não respeitar tradições ancestrais...
De realçar a brilhante interpretação da actriz e modelo de origem etíope Liya Kebede no papel de Waris, o realismo concedido á personagem é assustador e o resultado estrondoso.
O filme de produção europeia não é técnicamente perfeito, no entanto o claro apelo social, a referencia á crueldade humana e a violência com que somos confrontados por uma realidade que tantas vezes preferimos esquecer ou ignorar desperta valores mais altos e vale por si só.
Waris Dirie é hoje porta-voz da ONU contra a mutilação sexual feminina, luta pela dignidade e direitos da mulher e está ainda envolvida em projectos de carácter humanitário, a sua história é uma fonte de inspiração e um extraordinário auto-retrato de uma mulher memorável, cuja personalidade é tão ou mais arrebatadora que a sua beleza, o filme...
Obrigatório!!!

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